Desespero

Eu sei que muitos jornalistas são do Sporting; e os que são do Benfica ou do Porto podem não se querer expôr. Mas seria interessante alguém reconhecidamente isento explorar os motivos profundos que movem Bruno de Carvalho a disparar em todas as direcções, especialmente após o derbi. Acho que esses motivos se resumem numa palavra só: desespero. Desespero pessoal e institucional

Desespero, porque neste momento o Benfica é o único dos 3 grandes que pode dar-se ao luxo de não ser campeão. Se não for campeão, pronto, ok, ainda não é desta que conquistamos um tetra. Venha a próxima época. Há dívida, mas há cash flow. O Benfica está tranquilo.

Mas não no caso do Sporting. Se não for campeão, a situação financeira agrava-se e muito. E até lá há eleições, ou seja, o lugar de BdC está em risco. Um motivo para desespero, neste caso pessoal.

E quanto ao desespero institucional? Vejamos. Se o Sporting tivesse ganho o derby, se calhar dobrava a 1a volta à frente ou muito perto da frente. Talvez até desse para vender 1 ou 2 jogadores no mercado de inverno (William, Adrien, Patrício...) Mas a 5 pontos do Benfica (o que diga-se, é recuperável, mas requer um certo esforço e concentração), e 1 atrás do Porto, pode o Sporting vender jogadores? Dificilmente. Mas... se não vender, terá liquidez? Por outro lado... se vender, que mensagem passa? Desportivamente (e com o Braga e Guimarães também na luta), com o plantel curto que tem, não há o risco de uma queda a pique?, desvalorizando ainda mais os jogadores que estão na equipa (visando por exº uma venda no fim da época)?

Isto é tão ou mais dramático quanto o FC Porto também está "obrigado" a vencer algo este ano. E como está fora da Taça de Portugal, a competição a vencer é mesmo o campeonato. Ou seja, o Sporting elege o Benfica como alvo, mas tem este ano como grande rival o Porto.

O facto de nenhum jornalista ter capacidade de (ou interesse em) desmontar esta situação (inclusivamente para que pela via da clarificação se gerasse no Sporting uma alternativa razoável, racional e credível, em termos das próximas eleições) diz muito do jornalismo deste país.